Os biólogos do Parque Nacional do Pau Brasil, no sul da Bahia, têm motivos de sobra para comemoração. Depois de monitorarem por três meses um filhote de harpia, a maior ave de rapina das américas, finalmente localizaram seu ninho. A descoberta vai permitir aos pesquisadores ampliar o conhecimento da espécie, contribuindo para sua preservação.
O Gavião Real – como é mais conhecida a ave – era encontrado em várias regiões do país, mas entrou em risco de extinção, sendo classificada como vulnerável, devido ao avanço do desmatamento na Mata Atlântica. Essa é a primeira vez, em mais de dez anos de atividades no bioma, que o grupo de monitoramento encontra um ninho com filhote em áreas remotas do parque, que ocupa o equivalente a 190 mil campos de futebol. Há pouco mais de um ano, a equipe que tenta salvar a harpia fez a soltura de uma fêmea resgatada e cuidada por um mês no Centro de Triagem da Vida Silvestre (Cetas/Ibama) e por mais de dois anos na RPPN Estação Veracel.
O otimismo da equipe que monitora o ninho tem uma justificativa. A harpia, dona de uma envergadura (asas abertas) de mais de 2,5 metros, constitui um dos maiores desafios de preservação do país. É uma ave que está no topo da cadeia alimentar, o que faz com que sua sobrevivência dependa de um ambiente muito equilibrado, com vegetação preservada e abundância de outras espécies animais das quais se alimenta. O ninho encontrado está em um Embiruçu, árvore com mais 35 metros de altura e 3,5 metros de circunferência.
As harpias da Costa do Descobrimento, como é conhecido o litoral sul da Bahia e no Espírito Santo, são as últimas remanescentes do bioma Mata Atlântica. O novo ninho foi localizado fora de área onde regularmente a espécie se reproduz. Para sobreviver, um único gavião real precisa de um território equivalente a 50 campos de futebol. Os filhotes ficam com os pais até completarem um ano e meio e circulam somente a 700 metros do local de nascimento, época em que aprendem a voar e a caçar para sobreviver.
Monitoramento
As harpias na região do Parque Nacional do Pau Brasil e em seu entorno são monitoradas pelo satélite Argos e por transmissores de radiofrequência, além do tradicional anilhamento. A ave solta pelo projeto ocupa uma área de pouco mais de 20 campos de futebol, num raio de 4 Km.
O trabalho multidisciplinar é financiado e executado pela equipe da Reserva Particular do Patrimônio Natural Estação Veracel (RPPN), situada entre Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, com apoio da empresa Veracel Celulose.
O projeto Harpia na Mata Atlântica, coordenado pelo Programa de Conservação do Gavião-real do INPA, é parte do Plano de Ação Nacional para Aves de Rapina do ICMbio, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Conta, ainda, com apoio das populações locais e de grupos de falcoaria envolvidos na reabilitação das águias resgatadas.