Após processo de reabilitação na RPPN Estação Veracel, ave é devolvida a Mata Atlântica no Sul da Bahia.
Após 28 meses de reabilitação, a harpia – também conhecida como gavião-real – que estava na RPPN Estação Veracel foi devolvida com sucesso à natureza, no último dia 05/12. O local escolhido pelos pesquisadores foi uma área de Mata Atlântica do Parque Nacional do Pau Brasil (PARNA-PAU BRASIL) e o processo foi todo conduzido por uma equipe multidisciplinar de especialistas que compõe o Projeto Harpia na Mata Atlântica, que tem como propósito proteger essa espécie ameaçada de extinção no Sul da Bahia.
Com 93 cm de altura, 6,7 quilos e 2,03 metros de envergadura (comprimento de uma ponta a outra da asa aberta), medidas consideradas ideais pelos pesquisadores, a ave foi solta no início da manhã e não levou muito tempo para se sentir em casa. Primeiro ela alçou voo para um galho logo à frente da estrutura em que foi transportada até o local de soltura e, em seguida, voou em direção às matas. “Nos próximos 15 dias ela será monitorada em campo para que possamos acompanhar a sua adaptação ao novo habitat. Esse procedimento é considerado padrão e nos ajuda a entender a sua adaptabilidade”, explica a coordenadora do Programa Nacional de Conservação do Gavião-real, Dra. Tânia Sanaiotti. Após essa fase, a ave será monitorada semanalmente por meio da telemetria (rádio VHF) e pelos pontos detectados pelo sinal de GPS pelos próximos três anos.
Além de todo o trabalho desenvolvido durante a reabilitação da ave, os pesquisadores fizeram uma avaliação das matas existentes na região para ter a garantia de que a ave encontraria as condições necessárias para a sua sobrevivência. Como esta é a terceira harpia devolvida à Mata Atlântica pelo projeto, a localização das outras duas também foi levada em consideração para a escolha do lugar, prevenindo possíveis embates por território.
A coordenadora da RPPN Estação Veracel, Virgínia Camargos, ressalta a importância dessa iniciativa. “A Veracel entende que o respeito e a proteção ao meio ambiente é algo que está intrínseco ao seu negócio. E poder cuidar, reabilitar e devolver à natureza uma ave que é topo de cadeia alimentar e tentar garantir o equilíbrio ambiental nas áreas naturais conservando as matas existentes em nossa região, significa que nós estamos seguindo no caminho certo”, conclui a gestora da RPPN Estação Veracel.
A reabilitação
O processo de reabilitação começou em 18 de junho de 2012 quando esta Harpia jovem, com cerca de dois anos de idade, foi encontrada na Fazenda Sertaneja em Vera Cruz, Porto Seguro. O local está no entorno do Parque Nacional do Pau Brasil e, segundo a coordenadora do Programa Nacional de Conservação do Gavião-real, Dra. Tânia Sanaiotti, “estima-se que deve ser um indivíduo em dispersão, proveniente do próprio Parque”.
A ave foi encontrada por moradores da região, resgatada pela Companhia Independente de Policiamento de Proteção Ambiental – CIPPA e encaminhada aos cuidados do IBAMA local. Após avaliação do médico veterinário Dr. Mário D'Ávila, do Centro Médico Veterinário (CEMEVE), em Eunápolis/BA, foi constatado que o animal estava em boas condições e que sua recuperação deveria ser rápida. A harpia permaneceu no Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS-IBAMA) por 15 dias e, em seguida, foi abrigada no harpiário da RPPN Estação Veracel, onde ficou até o momento da soltura.
A partir daí, foi iniciado o processo de reabilitação sob os cuidados do Projeto Harpia na Mata Atlântica. Em sua chegada, ela foi novamente pesada, realizado exames de Raio-X e amostras de sangue foram coletadas para análise pelo médico veterinário Dr. Thiago Habib Almeida, de Porto Seguro. Os resultados, vindos de Manaus/AM, demonstraram que estava livre de parasitas.
A etapa de reabilitação de voo, ataque às presas e capacidade de carga foi realizada durante dois anos no harpiário. Neste mesmo local, outras duas harpias foram reabilitadas anteriormente pelo Projeto.
Em abril de 2013, o gavião recebeu um protótipo com peso e aspecto semelhantes ao transmissor via satélite que seria instalado para viabilizar seu monitoramento. O protótipo foi substituído em novembro de 2014 pelo equipamento definitivo que inclui um transmissor via satélite ARGOS e um transmissor VHF. Isso permite seu rastreamento pelos biólogos em campo. A harpia também recebeu anéis de identificação do CEMAVE/ICMBio. Neste momento, novos exames foram realizados pelo Dr. Mário D'Ávila, constatando, mais uma vez, ausência de parasitas.
Durante o período de dois anos e quatro meses, seguindo os procedimento do protocolo de reabilitação, a ave manteve o mesmo peso e sua plumagem atingiu características quase adultas, com costas e colar negros. Sua destreza no voo já se equipara ao de uma ave silvestre em boas condições, transportando presas de mais de dois quilos, o que confirma suas características para ser solta novamente em áreas de Mata Atlântica do Parque Nacional do Pau Brasil (PARNA-PAU BRASIL). Após a soltura, atividades de educação ambiental serão realizadas nas comunidades vizinhas ao Parque, com o objetivo de sensibilizá-las para a proteção desta espécie e orientá-las para o relato em casos de avistamentos da ave.
O Projeto Harpia na Mata Atlântica é uma iniciativa voltada para a pesquisa, reabilitação, reintegração e conservação da população de harpias de vida livre que habitam as matas dos fragmentos florestais da RPPN Estação Veracel, da CEPLAC e do PARNA Pau-Brasil, no Sul da Bahia. Graças ao apoio da Veracel Celulose, em parceria com o INPA, INPE, IBAMA, ICMBIO, CIPPA, SOS Falconiformes, ABFPAR e CRAX, o projeto vem possibilitando a inclusão destas aves no Programa Nacional de Conservação do Gavião-real e a reintegração com sucesso destes animais à natureza.