Pesquisas e monitoramentos são recursos importantes para buscar clareza sobre o assunto
O eucalipto seca o solo? Essa é uma questão que sempre tem destaque, quando o assunto é o plantio comercial dessa espécie. Para oferecer dados e informações de valor científico, pesquisas e monitoramentos são recursos importantes para buscar clareza sobre o assunto. Com o objetivo de estabelecer referências científicas para o manejo sustentável da água e promover a melhoria contínua do manejo florestal, a Veracel Celulose realiza, desde 2005, o monitoramento de duas microbacias experimentais no Extremo Sul da Bahia. Uma em área de mata nativa e outra em área de plantio de eucalipto. Os estudos apontam semelhanças entre ambas, e não validam a ideia de ressecamento do solo.
“A empresa está entre as quatro do Brasil que realizam esse tipo de monitoramento”, explicou o engenheiro florestal Arthur Vrechi. Segundo Vrechi, esse é considerado o monitoramento mais adequado para a identificação de possíveis impactos de florestas plantadas sobre recursos hídricos, pois é realizado simultaneamente em uma área de mata nativa e em outra com plantio de eucalipto. “Dessa forma, conseguimos ter parâmetros para fazer a análise da qualidade e do volume de água na microbacia com plantio de eucalipto.”
A microbacia de mata nativa que serve de parâmetro para as análises da água fica na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel. A microbacia abrange uma área de 180,2 hectares no município de Porto Seguro. A microbacia onde está instalada a segunda estação de monitoramento fica no projeto Peroba II, no município de Eunápolis, com 327,8 hectares.
O resultado das análises é enviado mensalmente à Rede de Monitoramento Ambiental de Microbacias (ReMAM) – composta por 18 microbacias experimentais,que integra o Programa de Monitoramento Ambiental de Microbacias (Promab), coordenado pelo professor Walter de Paula Lima, da Universidade de São Paulo. O ReMAM gera anualmente um relatório que é apresentado à Veracel. A última versão, referente a 2008, registrou que o escoamento da água médio anual da microbacia com eucalipto foi praticamente igual ao da microbacia com mata nativa. Em relação ao monitoramento das variáveis físicas e químicas da água, a análise também demonstrou que existe semelhança entre a microbacia com floresta nativa e a floresta de eucalipto. Em termos de indicadores de qualidade da água subterrânea, o relatório registra que, nos poços piezométricos (que medem o lençol freático), os resultados mostram que praticamente não existem diferenças entre as duas microbacias.
Análises e levantamentos do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF) e da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) revelam que plantações de eucalipto, manejadas adequadamente, consomem a mesma quantidade de água que as florestas nativas.
Outra informação trazida por esses estudos é que o eucalipto usa a água disponível para o seu desenvolvimento, sobretudo da camada superficial do solo. O eucalipto apresenta consumo parecido com o café e menor que o da cana-de-açucar.
Como é feito o monitoramento?
Para realizar o monitoramento, foram construídos dois vertedores (para medição de vazão). Nesses locais, foram instalados equipamentos eletrônicos (data loggers e sensores de quantidade de chuva e nível do riacho), abastecidos por placas de energia solar, onde são registradas, a cada 5 minutos, informações referentes ao volume de água do local. Um pluviômetro registra a ocorrência de chuvas. “A diferença entre a água que entra na microbacia pela chuva e o que é medido no vertedor representa a evapotranspiração, ou seja, a quantidade de água que retorna para a atmosfera por evaporação e pela transpiração da floresta e outras vegetações. Esse balanço tem sido positivo”, explicou o engenheiro florestal.
Além disso, em cada uma das duas áreas foram construídos três poços piezométricos (para medição do lençol freático), onde é medida a profundidade do lençol freático e são recolhidas amostras de água para análise em laboratório. São recolhidas amostras também da água dos vertedores. Essas amostras são levadas para o laboratório, onde são realizados 15 tipos de análises químicas da água. Segundo Vrechi, nestes três anos de monitoramento, não foi constatada nenhuma alteração significativa na qualidade e na quantidade de água na área de plantio de eucalipto.
Desde 1993, a Fibria (antiga Aracruz) realiza esse tipo de monitoramento, e os resultados também chegam a essa conclusão. Estudo semelhante foi realizado, de 2005 a 2007, pela Universidade Federal de Viçosa (MG), em uma microbacia hidrográfica com eucalipto. Esse estudo concluiu que o eucalipto não consome muita água. “É possível afirmar que ele não secou o solo na região estudada, pois o excedente de água, não utilizado pelas plantas ao longo do ano, foi utilizado para reabastecer o curso de água”, constatou o estudo.
Apesar de não terem sido registradas alterações significativas no volume e na qualidade da água nas duas microbacias monitoradas pela Veracel, Vrechi aponta que é importante a realização contínua desse monitoramento, porque mais anos de análise podem gerar resultados com maior legitimidade científica.