A marca foi atingida no ano passado pela empresa, que transformou boa parte dos resíduos das operações industriais em produtos agrícolas. A possibilidade de um aterro industrial zero pode ser realidade em um futuro bem próximo.
A fábrica da Veracel, localizada no município de Eunápolis no Sul da Bahia, atingiu em 2019 o índice de 99% de reciclagem de resíduos industriais, anteriormente o índice máximo de reciclagem atingido havia sido de 98%. Esse resultado foi alcançado graças à reciclagem da cal queimada – um resíduo que até então não era reciclável. Segundo Tarciso Matos, coordenador de Meio Ambiente da empresa, as soluções encontradas desde 2012 para tornar os resíduos recicláveis foram fundamentais para poupar e duplicar a vida útil do aterro industrial, que naquela época estava com o seu volume praticamente esgotado e o índice de reciclagem de resíduos era de 70%.
De acordo com Tarciso, os resíduos do processo de fabricação de celulose possuem características bastante valorosas para agricultura. “Basicamente, são dois tipos principais de materiais: um rico em calcário e o outro rico em matéria orgânica e nutrientes. Em 2019 as ações foram voltadas para estabelecer um procedimento operacional para converter a cal queimada (CaO) em um produto apropriado para a fabricação de corretivo de acidez de solo”, explica o coordenador.
Atualmente a geração anual de resíduos calcários da fábrica da Veracel está em equilíbrio com a necessidade de uso de corretivo de acidez de solo para reformar 1/7 avos dos plantios de eucalipto da empresa. “100% do corretivo de solo utilizado na área florestal é fornecido pela unidade de produtos agrícolas da fábrica da Veracel”, reforça Matos. O corretivo de acidez de solo e fertilizantes são também comercializados com os produtores agrícolas da região a preços bastante competitivos.
Histórico – A Veracel foi a primeira fábrica de celulose no Brasil, em 2005, a iniciar as operações fabris com uma unidade produtora de produtos agrícolas pronta para receber os resíduos do processo de fabricação de celulose e convertê-los em fertilizantes e corretivos de acidez de solo. Em 2011, o índice de reciclagem de resíduos industriais era cerca de 70%, ou seja, 30% dos resíduos eram destinados para o aterro industrial e eram gerados 55kg de resíduos por tonelada de celulose produzida (tsa). Como consequência, a capacidade de volume do aterro industrial começou a ficar comprometida.
Esse cenário motivou, em 2012, as áreas operacionais, de engenharia e de meio ambiente da empresa a se unirem para buscar soluções que aumentassem a reciclagem e a reutilização de resíduos. Como exemplos de reutilização dos resíduos no processo produtivo, destaca-se o reaproveitamento das cascas de madeiras geradas nas quebras dos picadores de cascas e que eram enviadas para reciclagem. “Em vez de irem para a compostagem, algo que dura cerca de 2 anos, elas retornam ao processo para a geração de energia elétrica”, explica Tarciso, lembrando que o excesso desse material na área de compostagem acabava se tornando um fator de risco de incêndio. Um bom exemplo de reciclagem é o rejeito da depuração marrom que antes ia para o aterro e desde 2014 passou a ser enviado para a pilha de cavacos para ser reutilizado como matéria prima.
Em 2017, a Veracel atingiu o índice de 98% de reciclagem de resíduos. Naquele ano, a geração de resíduos foi reduzida para cerca de 30 kg/tsa e a mesma célula do aterro industrial continua sendo utilizada até hoje. “Atualmente, cerca de 1 % dos resíduos gerados são destinados para o aterro industrial, em geral, esta geração é resultado de eventos esporádicos, relacionados a algum distúrbio no processo. E vamos buscar alternativas para zerar esse 1%, pois toda a equipe continua motivada para enfrentar desafios. A sinergia entre as áreas é muito grande”, avalia Tarciso.