“A natureza cada dia que passa nos surpreende”, disse o coletor de sementes David Souza, conhecido como Marola, durante a participação no curso de Treinamento em Colheita e Manejo de Sementes Nativas, realizado de 28 a 30 de setembro, na RPPN Estação
Marola é do assentamento Gildázio Barbosa, em Itabela, e trabalha na coleta de sementes desde 2000. Ele conta que participou do curso procurando se atualizar sobre a legalização da atividade, novas técnicas e equipamentos de segurança existentes para a colheita de sementes. “Comecei sozinho, fazia a colheita das sementes e produzia mudas na minha casa. Hoje tenho 16 famílias de agricultores trabalhando comigo e vendo as sementes para viveiros da região. O mercado de compra de sementes nativas é muito bom”, contou Marola destacando também a viabilidade econômica e a sustentabilidade da profissão.
O curso promovido pelo Instituto BioAtlântica (IBio), pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e pela Veracel Celulose teve o objetivo de fortalecimento e capacitação dos atores locais que trabalham com a cadeia produtiva de restauração da Mata Atlântica, explicou o biólogo Alessandro Moraes.
Cerca de quarenta pessoas ligadas a viveiros e a assentamentos participaram dos três dias de curso, quando foram apresentadas informações sobre a Sustentabilidade da Colheita, a legalização da produção e marcação de matrizes, o manejo de equipamentos de colheita, as técnicas de colheita em árvores, a colheita de sementes e o manejo de sementes e produção de mudas.
Preservar e gerar renda – O curso teve o objetivo ainda de apresentar também mais uma alternativa de fonte de renda. “Queremos mostrar que com a colheita de sementes nativas eles têm uma renda extra ou alguns casos eles não necessitam investir em desmatamento para a agricultura. Sendo a coleta de sementes a única atividade deles. Numa estatística inicial, levantamos que a colheita de sementes chega a gerar uma renda média de 700 reais, mas tem épocas que é mais”, revelou Moraes.
Segundo Marola, a atividade garante uma produção anual, diferente das culturas agrícolas e não há a necessidade de se realizar desmatamento de áreas e investir para garantir a produção. “A produção de sementes é permanente, diferente de culturas agrícolas que são sazonais”, destacou.
Acostumado a utilizar a peia feita com três cordas para subir em árvores, Marola conheceu durante o curso, os equipamentos de segurança e aprendeu o manejo adequado desses equipamentos e a utilização de técnicas como o alpinismo, a peia, a escalada, escada, o blocante ao tronco e roldanas, que garantem mais segurança ao profissional no momento da colheita. “Ele preferiu continuar utilizando a peia, mas utilizando os equipamentos de segurança como o blocante ao tronco e o capacete, que lhe dão mais agilidade e segurança durante a colheita”, afirmou o biólogo.
Outra orientação repassada durante o curso foi sobre o manejo sustentável das matrizes de sementes nativas. “A colheita feita de forma inadequada nas árvores nativas, pode acarretar em doenças nas árvores, em desequilíbrio na oferta de alimentos para a fauna e, no futuro, na baixa oferta de sementes dos fragmentos de mata nativa que estão sendo utilizados para a colheita”, alerta Moraes sobre a importância de se adquirir orientação e conhecimento sobre a legislação antes de se começar a atuar na área.
A iniciativa do curso foi do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Instituto BioAtlântica e Veracel Celulose, com o apoio da Alstom e Storaenso, e com a parceria da Conservação Internacional (CI – Brasil), Embrapa Agroecologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba (UFSCar).